MARELLO: UM JOVEM LIGADO NO SEU TEMPO

24/05/2019

Em cada época ecoam gritos que expressam as mais diversas necessidades do ser humano e da criação: Fome, injustiça, miséria, guerra, desmatamento, poluição, dentre outros. Em meio a tudo isso, o que deve caracterizar a nossa humanidade é a sensibilidade para com essas realidades, pois não somos “indivíduos” isolados, mas “pessoas” capazes de estabelecer relações com o transcendente, o outro e o meio no qual vivemos e somos.

Neste registro, apresentamos o Marello como um modelo de pessoa. Sim, pois isto que um santo é: exemplo de vida! Falamos de um “modelo de pessoa” porque ele sabia se relacionar com o divino e se fez tão próximo de Jesus que conseguia contemplar seu rosto e enxergá-lo em cada face humana a sua volta marcada pelas realidades daquele tempo e lugar. Ou seja, ele é modelo para nós porque foi “ligado no seu tempo”. Portanto, o Marello, apesar de ser muito orante, nunca foi uma pessoa alienada, pois sua oração era consciente do chão que estava pisando. Tanto que ele mesmo escreve numa de suas cartas que muitas vezes Deus prefere os atos de caridade em relação aos de piedade (Cf. L 231), e dizia ainda: “É a caridade que deve predominar sobre todas as nossas ações” (S 202).

Essa caridade de que fala o Marello se trata do fundamento do que chamamos de “solidariedade”, isto é, a ideia de que precisamos colaborar uns com os outros para a construção da paz social. Esta, por sua vez, nasce da sensibilidade para as necessidades do mundo e da empatia para com aqueles que necessitam da nossa ajuda. É isto que o nosso pai fundador quer nos ensinar hoje.

Vivendo no século XIX não passava desapercebido pelo Marello os acontecimentos históricos e sociais da sua época como as guerras de independência e unificação da Itália, a situação dos jovens operários feitos mãos de obra barata, o descarte de idosos e doentes e a falta de religiosos consagrados na sua região. Por isso, desde cedo, interessou-se pelas causas sociais, quis ser jornalista e político; mas, sobretudo, assumiu a responsabilidade do amor preferencial pelos sofredores e manifestou este sentimento através dos seus gestos de solidariedade desde a doação da sua mesada para os amigos mais pobres quando adolescente, passando por compras de coisas fúteis apenas para ajudar no sustento da família dos vendedores ambulantes, até nas grandes obras como a condução de orfanato, asilo, escola e a fundação da Congregação dos Oblatos de São José que hoje está espalhada pelo mundo mantendo vivo o seu ideal.

Como no tempo do Marello, também hoje ecoam muitos gritos ao nosso redor. A juventude clama por oportunidades de formação e de emprego, as mulheres pela igualdade frente uma longa história de autoritarismo por parte dos homens, as crianças e adolescentes pelo direito à educação básica de qualidade, os desempregados pelo pão e o sustento da sua casa, a criação que sofre com o aumento de agrotóxicos e desmatamentos desenfreados... Enfim, são muitos “gritos” diante dos quais, como amigos do Marello, não podemos nos fazer surdos! Antes, é preciso que estejamos unidos a Deus e que enxerguemos a sua dor no sofrimento de cada pessoa para que, atentos ao que acontece ao nosso redor, nos comprometamos com o bem viver de todos. Para que isso se torne concreto, aprendamos do Marello o seu caminho: “Reze, pense e ame!” (L 10).

 

Frei Lucas Raul de Faria, OSJ.